domingo, 11 de janeiro de 2015

Andorinhas

Os meus amigos voaram para longe. São andorinhas. Estão em locais distantes a maior parte do ano. Abriram mão de um país e abriram asas a outros. Foram. Tiveram essa coragem. Portugueses novos, livres, mas obrigados a sair de casa. Uma nação disforme e injusta.
São andorinhas. Só as temos de vez em quando. Foram uma a uma. Cada qual na sua vez. Tantas, que se perdem os dedos. Mandam bicadas e notícias de vez em quando. Fazem novos ninhos longe, numa casa mais acolhedora e quente. Voltam no Verão e no Natal, quando a saudade bate forte no peito. Estando cá, dividem-se. Multiplicam-se por todos os beirais, verificando se tudo está como era previamente. As Primaveras são sempre diferentes. Antes de irem, trejeiteiam o céu preocupadas mas felizes ao final da tarde, quando o sol quase se põe e menos um dia falta para apartarem.
Nós, os que ficamos por cá, ansiamos pela passagem do tempo. Pela passagem das estações. Pelo sorriso do sol. Pelo calor dos amigos. Deliramos. Achamos que sentimos um bater de asas. Que ouvimos gargalhadas. Esperamos que o vento mude, e os traga de volta. Com o coração apertado e nostálgico.
Nós, os que ficamos por cá. Com a coragem de ficar.

(Café Contexto 2/52)
 

1 comentário:

  1. O valor da "coragem para ficar" não tem preço. Envoltos nas raízes culturais, nos cheiros e sons do berço que nos viu nascer e crescer é impagável em qualquer parte do Mundo.

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