domingo, 15 de março de 2015

Pai - Semente

Da mãe terra, do pai semente.


Una, única célula, uma vida própria, dividendos. Multiplicação desenfreadada, natureza desmedida, num ainda quase gente, num ainda quase nada.
Da radícula cérebro, da gémula pulmão. Um embrião completo, de cotilédones coração.
Com a semente capa, tegumento. Braços de pai que apertam e protegem, dando sempre espaço, dando sempre alento.
Braços e pés palmados, digitados, iguais aos teus. Traços ténues, cores diferentes, não do teu lado, talvez da mãe.
De temperamento persistente e mau humor caduco, ideias agitadas, sagitadas, muito próprias.
Uma plântula saída do negrume para ver a luz pela primeira vez, um primeiro filho dá à luz um pai, que o fez.
Uma qualquer planta que cresce em direcção aos céus, fazes-me chegar cada vez mais alto. Sempre pela mão, sempre por meus próprios pés. Querer mais, ser mais, ter o céu pelo limite. Esperar a altura certa, escutar o próprio ritmo. Raízes que agarram sem prender de mais. Folhas abertas a novas aventuras, novos ideais.
Da Natureza, uma semente a uma planta folheada. Xilema, fluema, todo um organismo em veios comunicantes. Feito de matéria viva, seiva corrente. De clorofila a sangue, sépalas de toda uma nova geração. Não nove meses na barriga, mas nove, já no coração.

(Café Contexto 11/52)

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