domingo, 1 de fevereiro de 2015

Caminhava sozinho. Os seus passos tocavam as paredes do túnel, que lhe retribuíam.
Num qualquer túnel. Sem interesse da hora ou do dia. Quando se está preso, deixa de haver diferenças. Os dias são iguais. Os dias são só dias.
Vida, linha contínua imparável. Estados estacionários proibidos. Mais importante que a partida ou a chegada, o sorver da passagem.
Caminhava sozinho não solitariamente. Só apenas. Não por opção.
Não se manifestava, retendo tudo para si. Dois olhos e dois ouvidos, com uma só boca, muito mais devemos apreender do mundo em geral do que expressar uma opinião.
Deixar-se ir. Não falar. Não contestar. Seguir em frente. Não hesitar. Não olhar para trás.
Cinzentos, os dias iguais. Afazeres pendentes, que não interessavam pois no seu silêncio, o ruído dos seus pensamentos tornava-se ensurdecedor

(Café Contexto 5/52)


Fotografia de JPedro Martins

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