domingo, 26 de abril de 2015

Planisfério

Quanto de mim não cabe na tua pele. E se estes lençóis falassem, teriam mil histórias a contar. Quanto de nós já por eles passou. Quanto de nós se criou entre eles. Tu fizeste-me e eu a ti. Fomo-nos esboçando. Desenhar de personalidade, moldada e marcada nos vincos da nossa cama. Mapa de sonhos, planisfério de vida. Todas as palavras, lágrimas e suores trocados no oceano profundo de amores. Projecções de mil luas no teu corpo nu. O teu toque quente. Os teus braços, envolvendo-me. Eu, a dormir no teu peito, escutando, o que me pertence.
O passar do tempo.
Ver-te adormecer dia após dia. E dormires, indefesa e tranquila, ao meu lado. Todos os acordares em conjunto. A luz do teu sorriso numa qualquer manhã.
Todos os instantes que passamos juntos. Os teus pés sempre descalços, livres calcorreadores de estradas e dos vastos caminhos dos meus pensamentos.
Tu, metade de mim. Volta rápido. Fazes-me falta.
O espaço vazio entre os lençóis espera-te. Brancos e imaculados como sempre.
  
(Café Contexto 17/52)

Fotografia de JPedro Martins

 

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