domingo, 3 de maio de 2015

Lembranças

Era Outono quando te conheci. Apaixonei-me nesse instante. Aquele dia em que caminhavas no parque. Sem estar demasiado frio, e com sol.
Caminhavas pausadamente. Parecias perdida. Perdida em ti mesma, não no caminho. Divagavas nos pensamentos, com ar bem compenetrado. O que será que te passaria pela cabeça naquele instante.
Caminhavas e apanhavas as folhas coloridas que caiam das árvores com o vento. Preferias as grandes, palmas de mão. Enfiaste uma amarela no livro que carregavas naquele dia. Se fosse outro dia, seria outro livro.  Uma folha-marca-página, que ideia mais bonita. 
Dei por mim a querer conhecer-te. A querer saber mais de ti. Do que lias, do que gostavas. Conhecer-te à séria.
Dei por mim a chegar mais cedo ao parque, para ir ver-te. O habitual casaco vermelho que te ficava tão bem  e o enorme cabelo castanho escondido sob ele. Os olhos perscrutantes, grandes e atentos.
Nunca tive coragem de falar contigo. E agora desapareces-te. A rapariga das folhas. Tenho saudades do que mudava em mim quando te via passar. Da ansiedade de acordar, sabendo que te cruzarias comigo nesse dia. Da felicidade de simplesmente existires.
Como migalhas de pão deixadas a marcar o caminho, alimento a pássaros esfaimados. Também às folhas, as leva o vento. Lembranças, levam-nas o vento.
 
 (Café Contexto 18/52)


Fotografia de JPedro Martins
 

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