domingo, 12 de julho de 2015

Bigodes

Tudo muda com um gato dormindo a nossos pés. Vestido a rigor, de fato preto, colarinho, mangas e meias brancos. Bigodes claros, pinta na ponta da cauda. Elegância em quatro patas.
Dorme profundamente agora. Respira sossegado. Agita-se de quando a quando, atrás de um pardal voando, ou perseguindo uma mosca marota. Enrosca-se, ensonando, tal pescadinha de rabo na boca.
Atravessa-nos os passos, acaricia-nos as pernas. Salta-nos para o colo, rouba-nos a cama. Diverte-se com sacos plásticos, delira com caixas de cartão. Faz barulho quando alguém chega. Mia, conversando, até mais não. Olha o infinito, sonhando ser pássaro. Observa atentamente quem passa. Segue, com os olhos e bigodes tão próprios. As orelhas afiadas, os instintos tão prontos. Limpeza perfeita de língua, asseio extremo, pelagem brilhante. Empurra-me a pedir mimo. Vem encaixar no espaço de sofá que deixo vazio.
Ronrona-me, caro gato, que eu gosto.

(Café Contexto 28/52)

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