domingo, 25 de outubro de 2015

Linhas

A minha mulher tem o corpo traçado por linhas. Desenhos que a atravessam e cruzam. Afluem numa parte do corpo e desaguam noutra. Parece o mapa, atravessada por cursos de água.
De norte a sul, percorrem-na de Este para Oeste. Transitam por vales e montes. Limites bem definidos de território tão próximo. Vão parando em cruzamentos, encruzilhadas de pele, não tão bem cicatrizadas. Desenhos dinâmicos correntes, desaguam e esmorecem nas pontas.
Às vezes fico a vê-la despir-se devagarinho. Do Minho, ao Guadiana, aqueles subafluentes com origens bem profundas. A beleza que a atravessa, as marcas de que é feita. Todas marcam conquistas. Vitórias, ganhas em solo tão valioso.
Amanhã lá vai ela outra vez. Um novo corte. Ansiedades e promessas de melhoras, e um novo rio a nascer.

(Café Contexto 43/52)

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