domingo, 1 de novembro de 2015

Vento

Era velho, vento, pai. Percorrera os quatro cantos do mundo. Por onde passara, deixara sementes, criara raízes. Filhos, muitos filhos. Um continuar de geração, descendência quase espontânea. Ventinhos arrepiantes, quentes, ardentes, de boas promessas, de bons casamentos.
Educava-os sozinho, de mão bem firme, de palavra bem posta. Com arejos tão atrevidos, necessário andar a toque de caixa. Reguilas, por vezes. De asneiras, bem frequentes. Tão irrequietos, tão agitados, trabalhos dobrados, de filhos já criados. Desconhecendo já, como repreendê-los, enterrava-os nas dunas. Só lhes sobravam os cabelos.


(Café Contexto 44/52)

Fotografia de JPedro Martins

Sem comentários:

Enviar um comentário